Depoimento: podemos viver bem mesmo estando com Parkinson...
Meu nome é Regina de Mattos
Pereira, tenho 54 anos, moro em Niterói, Rio de Janeiro. Os sintomas começaram
no final de 2003. Sou Professora de artes, mas hoje em dia trabalho na
Biblioteca da escola. Gosto muito do que faço e acho que o trabalho é um dos
responsáveis por estar bem...
Mas não foi assim desde o começo... Levou mais de
um ano para que os tremores iniciais se juntassem à rigidez e aos movimentos
lentos, para serem traduzidos em Doença de Parkinson.Nada sabia do assunto, nunca havia lido e nem visto alguém com Parkinson.
A família ficou assustada, talvez até mais do que eu. Quando me dei conta da gravidade da situação, entrei numa tristeza profunda... Fiquei me perguntando: Porque eu? O que havia feito de errado para ter uma doença dessa... degenerativa, progressiva... Como lidar com essa espécie de sentença? Uma doença que não tem cura, como será isso? Terei que tomar remédios a vida toda. Pensei que fosse morrer logo... eu era jovem e aquela era uma doença de “velho”.
Por um tempo fiz o tratamento convencional, tomava
um monte de remédios, mas não estava satisfeita com isso. Minha irmã soube de
um médico neurologista e homeopata. Decidi consultá-lo e descobri que poderia
fazer um tratamento mais alternativo, com homeopatias além dos remédios
alopáticos, mudanças de atitudes, alimentação... tratamento que faço até hj.
Não saber o que se tem, não é a melhor maneira de
viver, por isso foi muito bom e importante a 1ª consulta com esse novo médico.
Ele me explicou como funcionava a dinâmica do Parkinson... Disse-me que podia
ajudar no meu próprio tratamento... que aos poucos eu iria descobrir o que
fazia eu me sentir melhor ou não. Foi a melhor notícia, e pude mais tarde
constatar que dependendo de nossas escolhas podemos ter uma boa qualidade de
vida...
Claro que não foi tudo tão fácil, fiz terapia por
um bom tempo, para assimilar essa minha nova condição de vida. Passamos por
várias fases quando descobrimos o Parkinson, a depressão, a negação, a
aceitação e finalmente a superação. Acho que a mais importante e mais difícil
também é a aceitação, precisamos aceitar aquilo que não tem retorno e, a partir
daí, procurar se adaptar e achar a melhor maneira de viver...Alguns meses depois que descobri estar com a doença, encontrei grupos de pessoas com Parkinson, primeiro no Orkut, depois num chat, a maioria tinha pouca idade como eu. Comecei a me relacionar com essas pessoas virtualmente. Ali fiz novos amigos, pessoas com as mesmas dificuldades, mesmas dúvidas, enfim pessoas como eu.
Para minha alegria e surpresa iriam fazer no final do ano um Congresso das Associações do Brasil... imagine, eu que pensava que só tinha eu com Parkinson com aquela idade
Resolvi ir ao Congresso, uma amiga me acompanhou. Aliás isso foi fundamental para minha superação ter o apoio da família, dos amigos, das pessoas no trabalho, isso é realmente muito importante. Não é necessário que as pessoas façam as coisas pra nós, mas se tivermos alguém quando precisarmos nos dá confiança para sermos independentes. Falei com meu medico que me incentivou a participar das atividades, do Congresso...
Foi uma das melhores coisas que fiz, sempre fui
muito positiva e ali no meio de tantos parkinsonianos pude ver o que era a
doença de Parkinson, aliás pude ver além da doença de Pk. Pois ali não havia
“Mal” de Pk nenhum, estavam ali pessoas que tinham a doença, e mesmo estando na
cadeira de rodas, com muletas ou andador, estavam ali, participando, felizes.
Cada um era de um jeito, tinha suas limitações. Essa foi a minha visão, mas
podia ser totalmente diferente. Podia ver só a parte negativa, ah é assim que
vou ficar... que infeliz sou eu...
Lembrei-me do que disse o médico: “Você pode ajudar
no seu tratamento.”Naquele encontro conheci a Monica, que também mora aqui em Niterói e começamos a alinhavar o grupo de ajuda que temos hoje.
Hoje temos 4 anos de atividades. Passamos por
alguns endereços, fizemos muitas reuniões, participamos de outros congressos e
encontros de lazer, que alias eu participei da organização do 1ª encontro
parkinsonianos de lazer. Nos encontramos em lugares públicos para divulgar a
doença de Parkinson.
Esse ano participamos do RUN FOR PARKINSON, que é
um evento internacional. Fizemos alguns passeios juntos, festas juninas, de fim
de ano, enfim, nosso grupo está crescendo, somos quase ou mais de 30
parkinsonianos além de cuidadores, amigos, voluntários etc... O Grupo foi mais
uma mudança de atitude, nos comprometer em frequentar um grupo é muito bom, nos
sentimos acolhida. E ser responsável pelo grupo aumenta nossa auto estima...
Uma coisa muito importante, são os exercícios e
atividades . Neste período de quase dez anos, fiz ginástica, pilates,
alongamentos, hidroterapia ,e agora estou fazendo fisioterapia e alongamento, e
um pouco de caminhada. Outra coisa que fiz foi acatar a sugestão do médico e
ter algum animal de estimação. Tive cachorro, coelho que gostei bastante,
galinhas que também gostei, codornas, e agora tenho uma tartaruga.
Sempre que estou disposta vou para o jardim podar,
plantar e colher... Gosto de ler e gosto muito de fazer arte, de todo tipo.
Tenho alguns blogs que são o resultado dos meus
trabalhos e ideias:
- O Blog do GAP NITEROI diz o que estamos fazendo
em relação ao grupo;- Os Blogs da biblioteca da escola;
- Dos meus Blogs pessoais o Tremendo Papo é o principal.
O meu trabalho também é fundamental para a minha
vida com qualidade.
Na Biblioteca, fazemos muitas coisas além de
emprestar livros e fazer trabalhos... aplicamos vários tipos de atividades,
desde Roda de poesia até projetos de escritas, que deu origem ao LIVRO DA
BIBLIOTECA, o trabalho mais gratificante dos últimos tempos...
Estamos agora começando a 2 º livro da biblioteca,
onde todos alunos , professores, funcionários e ex-alunos podem participar.
Estou prestes a me aposentar, mas não pretendo me desligar definitivamente da
escola, pretendo ir substituindo o trabalho por outro também coletivo e
criativo... talvez um grupo de arte... O importante é não parar...
Este é o jeito que vivo e encaro a vida. É uma
questão de escolhas...
Eu escolhi ser feliz, mesmo com Parkinson!!!
Regina 21/09/2013
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