terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A MULHER DE ROXO por Genario


Não pensei que fosse mexer num vespeiro ao escrever o "TREME TREME". Surgiu até uma proposta para que as pessoas falassem de suas cidades. IRIS lembrou da MULHER DE ROXO, que habitava no, hoje, CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR, minha amada terra, onde tive a felicidade de nascer. Pois bem Iris, a mulher de roxo constava de "O TREME TREME" juntamente com outros personagens que resolvi cortar para não ficar muito extenso.

A Mulher de Roxo

Pouco se sabe sobre esta mulher (de roxo) que habitava as cercanias da Rua Chile, ainda nos seus tempos áureos. Ela andava - ou desfilava - na rua, a qual fazia sua passarela, sempre descalça e sempre de veludo roxo, apesar do calor, e com um crucifixo enorme pendurado ao peito, parecendo uma freira e dando ares de santa. Apesar de famosa, poucos ouviram sua voz. Ela não falava, apenas passeava, ou melhor, desfilava de preferência na porta da SLOPER e DUAS AMERICAS, que foram lojas chiques até os anos 70, quando começou a era dos Shoppings e início da decadência do centro da Cidade. Como Salvador sempre foi uma cidade solidária, a mulher de roxo vivia de doações .
Quando se dirigia ás pessoas, era de forma gentil e educada (corria boato que teria sido professora). Desta mulher emblemática, como disse, pouco ou quase nada se sabe. Uns dizem que se chamava Doralice. Outros, corrente mais forte, Florinda dos Santos, nascida em 1917 e falecida em 1997. Surgiu no cenário, nas imediações da rua Chile, nos anos 60,
zona do Pelourinho, no Buraco Doce, área de prostituição. Ela marcou tanto a época, que no mural da Assembléia Legislativa da Bahia foi inserida entre as personalidades da nossa terra, quer do campo político como popular. O painel tem 160 metros quadrados, elaborado pelo artista plástico baiano Carlos Bastos, e retrata as figuras mais marcantes da Bahia.
Ela ainda inspirou cineastas (baianos) como Glauber Rocha que apresenta um personagem baseado na figura da mulher de roxo, em seu filme"O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO". Dela pouco se sabe, apenas folclore. Uns dizem, teria sido professora de família abastada que teria sofrido uma desilusão amorosa, outros dizem ter perdido a fortuna. A verdade é que ninguém sabe ao certo sua origem, porém todos que a conheceram, de certa forma, foram tocados pela sua elegância e pelo seu ar de mistério...

MARCELO ALUFANTE e P.R.A.- 4
PRA-4 (lê-se "pê-erre-á-quatro" - não me pergunte o por quê desse apelido esdrúxulo). Lembro-me que PRA-4 era o prefixo da Radio Sociedade da Bahia, a mais potente do nosso estado e pertencia à rede dos Diários Associados de Assis Chateaubriand. PRA-4 era um negro alto, forte e careca, calças no meio das pernas e bata, sempre de branco e com um porrete nas mãos que também lhe servia de bengala. Quando ele passava e gritavam em alto e bom som "PRA-4" o pobre homem se transformava e resmungava levantando o porrete na defensiva. Lembro-me de certa ocasião em que conversava com Gildo (meu irmão) e com o Professor Henrique Muller, na porta do bar Santa Cruz, de propriedade de nosso pai, na Avenida Joana Angélica. Quando PRA-4 passa, Gildo, moleque como sempre , não perdeu a oportunidade e gritou "PRA-4"! Imediatamente, virou de porrete em punho, perguntando: quem foi? O moleque olha para o professor H. Muller e diz, sem hesitação: "foi ele". PRA-4 deu um carreirão no professor que foi se abrigar na barbearia Sete de Setembro que ficava nas proximidades.

Vamos lembrar também de Marcelo Alufante (corruptela de elefante) que habitava as proximidades do Colégio Central. Jovem de classe média que apresentava sinais de retardamento, era camarada de todos, conversador, mas se transformava quando chamado pelo apelido o qual detestava. Nesse período, anos 50/60, a freqüência aos cinemas era muito grande e o Cine Guarani promovia em determinado mês do ano, sempre em período de aula, os famosos festivais de cinema: basicamente, a sala apresentava, durante um mês, um filme por dia em sessões contínuas das 10 às 24 horas. Era uma farra para os estudantes que matavam as aulas para assistir o filme do dia. E quando Marcelo aparecia, era inevitável alguém gritar ALUFANTE e ele respondia: "é a mãe, filho da puta" e balançava os órgãos genitais, dizendo "olha aqui a tromba" e era colocado para fora, chorando.
Lembranças de Salvador quando era província, hoje é metrópole...

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