quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Uma Poesia para Íris
Madrigal Melancólico
Manuel Bandeira (11 de junho de 1920)
O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
– Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento.
Graça que perturba e que satisfaz.
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi,
Não é a irmã que já perdi,
E meu pai.
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
Um carinho...
Íris, em 1979, num desses dias difíceis da vida, um amigo deu-me numa folha de caderno este poema de Bandeira. Quando me sinto triste costumo relembrá-lo para eu não perder o foco, de que o importante é a vida, apesar de seus altos e baixos. Guardo dentro de um livro a folha de caderno com o poema, já amarelada pelo tempo. Guardo na memória o abraço tão carinhoso que recebi naquele dia. Era tempo de faculdade e perdi o contato com o rapaz, mas a força daquele instante eu levo para sempre no coração e tornou-se um hábito, quase uma missão, compartilhar o poema com pessoas queridas que atravessam momentos delicados. Receba em pensamento um abraço acolhedor, do tipo que diz tudo, sem palavras. *TT
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2 comentários:
TT,
É gratificante receber tanto carinho dos meus novos amigos nessa hora. Vocês superaram as expectativas e nunca fui tão paparicada assim. Isto é muito gostoso e sinto sinceridade e firmeza. A poesia é linda.
Obrigada. Valeu
Regina, relembrado encontrei aqui verdadeiras preciosidades. Me emocionei. Saudades: Sua,de TT e toda galera. Quando vejo a Dalva aí no blog com o seu lenço... é demais. Abração amiga de todas as horas.
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