O TREME TREME
A cidade de Salvador da Bahia, então com cerca de 250.000 habitantes, era muito rica em personagens folclóricas.
E os personagens eram muitos e quando eles passavam era a alegria da garotada, da qual eu fazia parte.
O preferido era o Professor Jacaré. Era chamado de professor, (só se vestia com paletó e gravata, como trajavam os professores da época) por ser irmão de uma famosa educadora baiana, estabelecida na confluência da Avenida Joana Angélica com a ladeira da Fonte Nova em colégio exclusivo para o sexo feminino e de Jacaré por só andar embriagado com a aguardente Jacaré. Onde o professor passava era uma algazarra, pois, ele era bom orador com voz eloqüente e enquanto andava ia discursando que começava e terminava com o bordão “É um professor quem vos fala” e a molecada e os adultos também, gritavam PROFESSOR JACARE e ele respondia em alto e bom som: “JACARE É A PUTA QUE O PARIU” e saia em disparada ate encontrar outra platéia. Era a mesma historia todos os dias.
Outra figura bastante interessante era Maria dos Estudantes, vendedora de acarajé nas imediações do velho Colégio CENTRAL. Amiga de todos os estudantes, não tinha quem não gostasse dela. Vendia fiado para todos pagava quem era consciente. Foi quem popularizou a ¨PUNHETA¨ o famoso e delicioso bolinho de estudante que ela fazia e comercializava no seu tabuleiro. Não faltava a um baile de formatura. Não ia especialmente para a formatura de alguém, ia participar de todos com quem tinha convivido durante o período de curso cientifico ou clássico do saudoso Colégio Central ( ainda existe, mais nunca o mesmo).
Outro que marcou minha adolescência (anos 50/60), bem como de toda Salvador, foi José Gomes, o famoso CUICA DE SANTO AMARO, língua ferina, para não dizer caneta, que com seus cordéis assustava as autoridades e políticos locais. Qualquer fato que chamasse atenção na cidade, lá estava ele contando as historias em seus cordéis que era escrito, impresso e comercializado por ele mesmo. Respondia expediente ou fazia ponto nas partes alta e baixa do Elevador Lacerda. Era um repórter da vida diária da Bahia (Salvador). Contando sobre assassinato, mulher que traiu o marido, a mulher que capou o marido e etc... Havia fofoca, política ou social, era com ele que enxergava na noticia o seu ganha pão. Apesar do apelido era natural de Salvador, Cuíca, não sei porque, de Santo Amaro porque adorava farrear por aquelas bandas. De vez em quando ia preso, pelo que escrevia, e para se garantir de uma possível prisão andava com um “Habeas Corpus’ preventivo no bolso. Não se sabe se o Desembargador que lhe dera essa concessão era por amizade ou por ter o rabo preso com medo da língua ou caneta ferina de CUÍCA “O TAL”, como se denominava.
Outro que tenho boas lembranças é o velho Major Cosme de Farias eterno Vereador, Rábula que comparecia a todo Júri Popular na condição de advogado de defesa. De modo geral conhecia o processo na hora para quem o acusado, em qualquer circunstancia, era inocente. Foi também um defensor ferrenho na luta contra o analfabetismo. Hoje empresta seu nome a um dos bairros de Salvador e ao Salão Nobre da Câmara Municipal. Seu nome lembra o advogado dos pobres, patriotismo, seriedade, amor aos pobres e tantos outros. Simplificando era “ SENHOR CIDADANIA”. Bravo defensor da campanha contra o analfabetismo.
De todos o que ficou mais marcado em minha consciência é de um senhor, via-se que era de origem humilde porem andava sempre de roupa limpa e morava nas proximidades do Largo 2 de Julho, no Cabeça, devia ter por volta de 50 anos. Ele andava em marcha acelerada (FESTINAÇÃO) com o corpo desequilibrado jogado para frente como se fosse cair, as mãos tremulando freneticamente, a face jogando de um lado para o outro e os lábios deixavam escorrer a baba. Era um desconforto olhar aquela pessoa e a turma não perdoava e gritava: TREME-TREME e mesmo desequilibrado e tremendo mais ainda conseguia correr atrás da molecada sem dizer uma palavra. Não tínhamos conhecimento de que mal ele sofria, e naturalmente não era tratado de forma de adequada, considerando que, naquele tempo não se ouvia falar da doença de Parkinson, apesar de ter sido descrita em 1817. Hoje reconheço que aquele senhor tinha todos os sintomas de Portador de doença de Parkinson, ironia do destino. Hoje sou um TREME-TREME...
Salvador 12/11/08
glc
E os personagens eram muitos e quando eles passavam era a alegria da garotada, da qual eu fazia parte.
O preferido era o Professor Jacaré. Era chamado de professor, (só se vestia com paletó e gravata, como trajavam os professores da época) por ser irmão de uma famosa educadora baiana, estabelecida na confluência da Avenida Joana Angélica com a ladeira da Fonte Nova em colégio exclusivo para o sexo feminino e de Jacaré por só andar embriagado com a aguardente Jacaré. Onde o professor passava era uma algazarra, pois, ele era bom orador com voz eloqüente e enquanto andava ia discursando que começava e terminava com o bordão “É um professor quem vos fala” e a molecada e os adultos também, gritavam PROFESSOR JACARE e ele respondia em alto e bom som: “JACARE É A PUTA QUE O PARIU” e saia em disparada ate encontrar outra platéia. Era a mesma historia todos os dias.
Outra figura bastante interessante era Maria dos Estudantes, vendedora de acarajé nas imediações do velho Colégio CENTRAL. Amiga de todos os estudantes, não tinha quem não gostasse dela. Vendia fiado para todos pagava quem era consciente. Foi quem popularizou a ¨PUNHETA¨ o famoso e delicioso bolinho de estudante que ela fazia e comercializava no seu tabuleiro. Não faltava a um baile de formatura. Não ia especialmente para a formatura de alguém, ia participar de todos com quem tinha convivido durante o período de curso cientifico ou clássico do saudoso Colégio Central ( ainda existe, mais nunca o mesmo).
Outro que marcou minha adolescência (anos 50/60), bem como de toda Salvador, foi José Gomes, o famoso CUICA DE SANTO AMARO, língua ferina, para não dizer caneta, que com seus cordéis assustava as autoridades e políticos locais. Qualquer fato que chamasse atenção na cidade, lá estava ele contando as historias em seus cordéis que era escrito, impresso e comercializado por ele mesmo. Respondia expediente ou fazia ponto nas partes alta e baixa do Elevador Lacerda. Era um repórter da vida diária da Bahia (Salvador). Contando sobre assassinato, mulher que traiu o marido, a mulher que capou o marido e etc... Havia fofoca, política ou social, era com ele que enxergava na noticia o seu ganha pão. Apesar do apelido era natural de Salvador, Cuíca, não sei porque, de Santo Amaro porque adorava farrear por aquelas bandas. De vez em quando ia preso, pelo que escrevia, e para se garantir de uma possível prisão andava com um “Habeas Corpus’ preventivo no bolso. Não se sabe se o Desembargador que lhe dera essa concessão era por amizade ou por ter o rabo preso com medo da língua ou caneta ferina de CUÍCA “O TAL”, como se denominava.
Outro que tenho boas lembranças é o velho Major Cosme de Farias eterno Vereador, Rábula que comparecia a todo Júri Popular na condição de advogado de defesa. De modo geral conhecia o processo na hora para quem o acusado, em qualquer circunstancia, era inocente. Foi também um defensor ferrenho na luta contra o analfabetismo. Hoje empresta seu nome a um dos bairros de Salvador e ao Salão Nobre da Câmara Municipal. Seu nome lembra o advogado dos pobres, patriotismo, seriedade, amor aos pobres e tantos outros. Simplificando era “ SENHOR CIDADANIA”. Bravo defensor da campanha contra o analfabetismo.
De todos o que ficou mais marcado em minha consciência é de um senhor, via-se que era de origem humilde porem andava sempre de roupa limpa e morava nas proximidades do Largo 2 de Julho, no Cabeça, devia ter por volta de 50 anos. Ele andava em marcha acelerada (FESTINAÇÃO) com o corpo desequilibrado jogado para frente como se fosse cair, as mãos tremulando freneticamente, a face jogando de um lado para o outro e os lábios deixavam escorrer a baba. Era um desconforto olhar aquela pessoa e a turma não perdoava e gritava: TREME-TREME e mesmo desequilibrado e tremendo mais ainda conseguia correr atrás da molecada sem dizer uma palavra. Não tínhamos conhecimento de que mal ele sofria, e naturalmente não era tratado de forma de adequada, considerando que, naquele tempo não se ouvia falar da doença de Parkinson, apesar de ter sido descrita em 1817. Hoje reconheço que aquele senhor tinha todos os sintomas de Portador de doença de Parkinson, ironia do destino. Hoje sou um TREME-TREME...
Salvador 12/11/08
glc
3 comentários:
Genário,Não conhecia essa sua veia de cronista.Gostei muito. Também conheci figuras interessantes em Salvador,como a Mulher de Roxo lembra? Andava na rua Chile.
Pois é continue colaborando e enriquecendo o nosso blog.
Aquele abraço.
Lendo esta crônica matei um pouco da saudade de uma Salvador que conheci através dos livros de Jorge Amado, com seus personagens marcantes. Linda, pena que acabou.
Conte mais... Abraços,
Ana Lúcia
Li sua crônica, Genário
Gostei em demasia
Conheci alguns casos
Da nossa querida Bahia
O professor jacaré
Achei muito engraçado
Na Bahia de terno e gravata
No calor pobre coitado
Sorte foi o turista
O sujeito viu e ouviu
Depois de irritado
O sonoro puta pariu
Os termos regionais
É bom de conhecer
Faz nosso vocabulário
Cada vez mais crescer
Se aqui em Minas Gerias
um punheta pedir
Tome muito cuidado
Alguém pode te agredir
Foi muito bacana
Essa tua iniciativa
Falar da Bahia
Na sua narrativa
Parabéns pelas palavras
Que nos proporcionou
É a nossa cultura
Um pouquinho aumentou
Ate me deu uma idéia
Que fiquei a pensar
Escrever sobre Mineiro
Para a Regina postar
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